Pensar a Saúde

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O “visionário” da destruição do SNS

Hoje o Ministro da Saúde foi à Assembleia discutir “O Serviço Nacional de Saúde: erros do passado e desafios do futuro”.

O debate começou logo com uma barbaridade do Sr. Nuno Reis, ao comparar Paulo Macedo a génios como António Arnault e Albino Aroso, considerando-o “visionário”.
Além de considerar uma ofensa às personalidades a quem o comparou, tenho uma questão: Visionário para o SNS em relação a quê?
A menos que seja um “visionário” para a sua destruição.

Senão vejamos dados concretos.

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No gráfico anterior observa-se o aumento gradual da despesa com os Hospitais Privados.
No seguinte que analisa a despesa com Hospitais Privados face à despesa total nos Hospitais, observamos um crescimento bastante mais acelerado nos últimos anos. Evidente desde 2010, ano em que Paulo Macedo assumiu a pasta da Saúde.screen-shot-2014-10-02-at-23-21-26

Mas não fiquemos por aqui e analisaremos de onde vem o dinheiro que paga este aumento de despesa com a saúde privada.
E vemos, no seguinte gráfico que o financiamento dos hospitais privados é em apenas 11% financiado por subsistemas privados e seguros; sendo 87% financiamento público, 35% direto dos cidadãos, 31% direto do SNS e 21% dos subsistemas públicos (como a ADSE).

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Ou seja andamos a pagar pela destruição do SNS, e de quem é a ideia? De quem é a tutela?
Do tal “visionário”…

Mas no que às intervenções do Ministro da Saúde diz respeito, se se pensava que iria haver abertura do Sr. Paulo Macedo para analisar a atual situação, fazer um diagnóstico e projetar/anunciar algumas alterações às problemáticas atuais do SNS. Ficaram goradas as expetativas.
Além de um discurso vazio, que já o caracteriza, fez apenas dois anúncios concretos:
– A vontade para estabelecer um “pacto de regime” com o PS para o futuro da saúde
– A contratação de 1700 médicos a partir de janeiro.

Quanto ao primeiro ponto, ele fica ferido de morte à partida quando o deputado da maioria faz a acusação de que o PS é “vazio de conteúdo” no que respeita a ideias para a saúde.
Não direi que não é, ou que até ao momento já tenha mostrado o contrário, mas quem é aceita falar com alguém que faz um convite seguido de acusações difamatórias?

O ponto dois prova que o diagnóstico à saúde não está feito.
Vejamos novamente dados concretos:

O gráfico seguinte mostra o número de médicos na prática por 1000 habitantes – acima da média da OCDE34!medicos na pratica

Por sua vez neste gráfico vemos o gráfico do número de enfermeiros na prática por 1000 habitantes – bem abaixo da média da OCDE34…

enfermeiros

…e a prioridade é contratar médicos?!?!?

Caro Ministro aproveite a audiência com a Comissão de Saúde dia 8 de outubro e inove, comece a preocupar-se com a saúde dos portugueses! Portugal agradece, e quando for velhinho, tiver Alzheimer e cair da cama, vai gostar de ter um bom SNS.

Fontes:
 - Health at a Glance 2013 – OECD Indicators
 - Momentos Económicos – Pedro Pita Barros